Mais uma foto belíssima, uma entre várias fotos temáticas que compõe o álbum da minha família. “Um feliz Natal e um próspero Ano Novo são nossos sinceros desejos.” Inusitado pensar estes votos associados à imagem. Companheiros inseparáveis de fotos memoráveis posamos em 1990, eu com três anos e meu irmão com quatro anos, não fazíamos ideia dos múltiplos significados dessa foto e de quantas viriam depois. Sempre percebi na escola a preocupação de acompanhar as datas comemorativas do calendário nacional e mundial. Seguindo algumas comemorações tínhamos a presença do fotógrafo, uma figura recorrente, registrando os imprevistos e previstos momentos da vida dos alunos. Como podemos perceber eu sou anterior as Câmeras Digitais, não tínhamos 200 fotos ao final de cada festa, na minha época os familiares para garantirem a concretização da foto ideal e economizarem filmes, contavam com o fotógrafo, caso houvesse algum ou dinheiro para tal. Enquadramento, iluminação, técnica, usando poucos filmes em mínimos flashs, após a revelação surgem às fotos que faziam sorrir amigos e familiares, esse era o papel do fotógrafo. Contrariando a ideia de Alves o cotidiano não era uma caixa preta, estimulando a imaginação é sim uma bandeja para servir a escola. Sempre repleta de festas que não possuíam conexão alguma com currículo, de caráter obrigatório sem critério para diversidade cultural ou religiosa. Felizes ou tristes, arrumados ou desalinhados, querendo ou não, a produção fazia o que tinha que ser feito, a foto e o glamuor (incluindo, maquiagem em crianças), nessa foto eu de batom vermelho atesto a falta de limite. O currículo defendido por Macedo com espaçotempo de negociação para lidar com as diferenças, não ocorreu, éramos uma massa homogênea, portanto sem necessidade de taís questões.
Aquele sorriso forçado era inevitável, ensaiado, ou apenas exibindo os dentes como faz meu irmão nessa foto, a hora do retrato surgia nos momentos que não estávamos interessados em poses, o recreio, o bate-papo a diversão, as angustias pessoais tinha seu cunho prioritário, mas davam lugar ao teatro fotográfico. Para alguns suponho que fosse divertido, algo esperado, uma felicidade, receberem a foto e exibi-la na turma e entregarem aos seus pais, Sacro Santo Ritual. Fantoche sorridente seguiu durante anos e a última foto que me recordo, eu já estava com 17 anos, era de formatura do ensino médio, na hora e no dia marcado eu não compareci, quando finalmente fui, entrei como montagem na foto com os outros colegas (já na era digital), se eu pudesse teria feito isso à vida inteira, pois o sorriso forçado é idêntico aos das demais fotos e pelo menos não precisei usar batom.